
Percebo de súbito que meu relógio de pulso
foi fabricado por Dalí;
E esses ponteiros derretidos e inexatos acabam com minha noção
de quanta eternidade já se passou
desde a primeira vez que enlouqueci...
Caminho descalço num tapete de flores que esconde cacos de vidros.
Meus calcanhares gritam de dor: Dói Dói Dói,
mas eu preciso chegar ao altar onde você me espera;
Linda.
Algumas poucas horas infinitas,
Chego pálido, semi-morto, desgastado, apático, seguro.
E triste, muito triste, meu bem.
Gasto meu último fôlego
acusando, ofendendo, berrando,
e descarrego uma metralhadora contra você,
contra toda a sua culpa,
contra tudo o que eu queria que fosse e que não é...
Linda, sua imagem se desfaz.
Patético como sempre, sorrio.
Partículas de raiva perdem a energia
e voltam para o universo tão calmas quanto eu.
Algo me diz que não precisava ser tão realista.
De qualquer forma,os choques cessaram
e posso dormir um pouco.